"Quero fazer da minha existencia lesbica feminista a produção crítica de mim mesma e do mundo!"

(frase criada por várias lésbicas feminista do Brasil- Marylucia Mesquita, Luanna Marley, Kaká Kolinsk...)

terça-feira, 25 de maio de 2010

Às vésperas da 1ª Marcha Nacional LGBT, revista Veja publica reportagem para desqualificar militância


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Domingo, 09 de Maio de 2010 REVISTA VEJA Veja essa!

Às vésperas da 1ª Marcha Nacional LGBT, revista Veja publica reportagem para desqualificar militância por Valmir Costa

Capa da Revista Veja de 12 de maio de 2010 SÃO PAULO – “Sem bandeiras nem passeatas”. Esta é uma das retrancas da reportagem de capa da revista Veja, que chega às bancas na próxima quarta-feira, 12, de todo o Brasil. Em São Paulo, ela já ocupa as bancas neste final de semana com a chamada “Ser Jovem e Gay: a vida sem dramas”. A reportagem mostra os conflitos de jovens que – na flor da idade – já resolveram a questão da homossexualidade, e vivem em harmonia dentro de casa.No entanto, a reportagem mostra um valor liberal da cidadania, na qual cada um age de forma individualista – neste caso na homossexualidade – e, assim, modifica (sem movimentos sociais organizados) a sociedade.“A cidadania liberal é a justificação da existência do estado não se encontra primariamente na proteção de direitos subjetivos privados iguais, mas sim na garantia de um processo inclusivo de formação da opinião e da vontade, em que cidadãos livres e iguais se entendem sobre os fins e as normas que correspondam ao interesse comum de todos. Com isso, exige-se do cidadão republicano mais do que a orientação segundo os seus respectivos interesses privados”, define o sociólogo e filósofo alemão Jürgen Habermas, 81.Este tipo de cobertura jornalística da revista Veja, que se mostra extremamente conservadora e liberal, aparece bem às vésperas da realização da 1ª Marcha Nacional LGBT, que acontece em Brasília entre os dias 17 e 19 deste mês, culminando com o 1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra a Homofobia, marcado para às 9h do dia 19, na Esplanada dos Ministérios.Nas entrelinhas, a revista Veja tenta desmobilizar e desmerecer a mobilização social da Marcha LGBT – na qual a militância de todos os estados e não-militantes rumam a Brasília para pressionar o Congresso Nacional e o Senado para a aprovação de leis que deem garantias aos homossexuais brasileiros – como a união civil (que está no Congresso desde 1995) e a aprovação da PLC-122/06 (que pune a homofobia no país). Tudo isso da forma mais perversa e sorrateira como age a direita conservadora brasileira. Este pensamento está no seguinte trecho apresentado pela reportagem:“Os jovens que aparecem nas páginas desta reportagem, que em nenhum instante cogitaram esconder o nome ou o rosto, são o retrato de uma geração para a qual não faz mais sentido enfurnar-se em boates GLS (sigla para gays, lésbicas e simpatizantes) - muito menos juntar-se a organizações de defesa de uma causa que, na realidade, não veem mais como sua”.
Personagens da reportagem da Veja Tendenciosa de direita – Neste sentido, a Veja tenta desqualificar o movimento LGBT brasileiro como se os homossexuais tivessem direitos civis resguardados pelo Estado. Logo, mostra a postura tendenciosa da publicação. Como lobo em pele de cordeiro, a Veja expõe a classe média ou alta brasileira na reportagem. E esta é a principal característica da chamada "cidadania liberal", pois ela considera o cidadão como consumidor e não como portador de direitos. Perversamente, a Veja esconde as chagas reais nas quais vivem os homossexuais desse Brasil tupiniquim. Esconde que um LGBT é assassinado a cada dois dias, como relata o Grupo Gay da Bahia (GGB), anualmente, no Relatório Anual da Homofobia no Brasil.A reportagem também expõe a despolitização das paradas gays no país. “Na última parada gay de São Paulo, a maior do mundo, a esmagadora maioria dos participantes até 18 anos diz estar ali apenas para "se divertir e paquerar" (na faixa dos 30 o objetivo número 1 é "militar"). A questão central é que eles simplesmente deixaram de se entender como um grupo”, diz a reportagem.É fato que as paradas tiveram a função política de colocar os LGBT nas ruas. Tanto é que nas primeiras manifestações em São Paulo, os gatos pingados tinham a possibilidade de estarem ali resguardados por máscaras, que eram distribuídas ao longo da passeata àqueles que não poderiam mostrar o rosto. E é exatamente este tipo de homossexual – o que se esconde da realidade dos homossexuais e não se preocupa com a coletividade dos direitos LGBT – que a Veja mostra."Nunca fiz o tipo masculino nem quis chocar ninguém com cenas de homossexualidade. Basta que esteja em paz e feliz com a minha opção", diz a lésbica e estudante paulista Harumi Nakasone, 20, à revista. A cilada tendenciosa da Veja continua quando cita “pesquisas científicas” de forma infame, sem argumentos científicos e sem pesquisas atuais. Segundo a publicação, “uma comparação entre duas pesquisas nacionais, distantes quase duas décadas no tempo, dá uma ideia do avanço quanto à aceitação dos homossexuais no país. Em 1993, uma aferição do Ibope cravou um número assustador: quase 60% dos brasileiros assumiam, sem rodeios, rejeitar os gays. Hoje, o mesmo porcentual declara achar a homossexualidade "natural", segundo um novo levantamento com 1.500 adolescentes de onze regiões metropolitanas, encabeçado pelo instituto TNS Research International”No entanto, a Veja não considera a pesquisa da Fundação Perseu Abramo. Realizada no ano passado, ela apontou que 92% dos brasileiros têm preconceito com LGBT. Enfim, a revista cita a pesquisa de 1993 e não cita nenhuma pesquisa realizada na atualidade para respaldar seus argumentos.Comparação aberrante – Para mostrar que os LGBT do Brasil não precisam de mobilização social, a revista cita países europeus, que têm salvaguarda do Estado em relação aos homossexuais, e com Índice de Desenvolvimento Humando (IDH) elevado. “Foi o que já ocorreu em países de alto IDH, como Holanda, Bélgica e Dinamarca. Lá, isso se refletiu em avanços na legislação: casamentos gays e adoção de crianças por parte desses casais são aceitos há anos. No Brasil, onde não há leis nacionais como essas, a apreciação fica sujeita a cada tribunal”, diz a Veja no seu processo de articulação de direita para mostrar que os homossexuais brasileiros vivem numa boa.Para piorar a situação, a Veja diz que o Brasil já sabe se posicionar e criticar a homofobia. Para isso, cita os militares Laci Marinho Araújo e Fernando Machado, que são perseguidos pelo Exército por sua homossexualidade. No mesmo parágrafo, para provar essa “tolerância brasileira”, cita as críticas feitas à homofobia ao BBB Marcelo Dourado. Só não diz que os militares gays até hoje ralam para terem seus direitos adquiridos e que a homofobia de Marcelo Dourado foi premiada com R$ 1,5 milhão.Ao longo da reportagem, a Veja mostra personalidades que assumiram a homossexualidade, como o cantor Ricky Martin e o jogador de rúgbi galês Gareth Thomas. Em síntese, à primeira vista, a revista mostra uma boa reportagem para e sobre os homossexuais. Porém, da forma que conduz a reportagem – e no momento na qual ele é divulgada – só desmerece o movimento LGBT brasileiro. É uma forma de “cala a boca”, que está tudo certo, tudo funciona e ninguém precisa de gritaria militante para pedir direitos. Diga-se de passagem, direitos homossexuais que a Veja sequer deu destaque na sua capa! Veja bem, mas veja com outros olhos!

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