"Quero fazer da minha existencia lesbica feminista a produção crítica de mim mesma e do mundo!"

(frase criada por várias lésbicas feminista do Brasil- Marylucia Mesquita, Luanna Marley, Kaká Kolinsk...)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Artigo do LAMCE! O que o movimento lésbico tem a contribuir com o feminismo e o que o feminismo tem a contribuir com o movimento lésbico?


olá pessoas queridas que acompanham o nosso blog. ele está desatualizado. eu sei. estamos correndo e planejando muitas coisas para 2010, inclusive um grupo de estudos lésbico feminista vai rolar com todo gás.
Pras discussões irem esquentando e aproveitando que a Luanna postou um incentivo pra gente se "teorizar" um pouco mais, posto aqui em baixo um artigo meu sobre feminismo e lesbianidade.
Esse artigo foi escrito para embasar a discussão do Fórum Cearense de Mulheres sobre lesbianidade e também nos prepararmos para uma discussão maior sobre heterossexualidade obrigatória e lesbianidade feminista que será feita na AMB. Espero que aproveitem bastante e discutam, critiquem, opnem e falem. esse espaço é nosso.

O que o movimento lésbico tem a contribuir com o feminismo e o que o feminismo tem a contribuir com o movimento lésbico?
Alessandra Guerra

Coordenadora colegiada do LAMCE e do Fórum Cearense de Mulheres


Neste texto, quando falamos de feminismo, pelo menos o feminismo que propõe o Fórum Cearense de Mulheres e o LAMCE, falamos de um feminismo que almeja uma radical transformação social, um feminismo que projeta um mundo em que se viva livre de correntes, estigmas ou padrões. Esse feminismo reconhece também, que as opressões que hoje vivemos são acarretadas por alguns fatores que estruturam a nossa vida em sociedade, como o capitalismo, o racismo e o patriarcado. Ele estuda o funcionamento dessas estruturas para então combatê-las pela raiz.
Quando nos referimos á lesbianidade, não estamos nos referindo apenas a uma mulher que escolhe outra mulher para satisfazer seus desejos sexuais. Estamos falando de uma ação ou reação política feminista. Dizemos que o ato lesbiano é feminista, pois ele subverte a lógica patriarcal da dominação masculina sob a mulher, legitimada pela prática generalizada da heterossexualidade.
O feminismo lesbiano, que nós do grupo LAMCE estudamos enxerga a heterossexualidade para além da sexualidade, ele entende a heterossexualidade como uma prática generalizada que estrutura o sistema político vigente na nossa sociedade e que é responsável pela maior parte das opressões que as mulheres são submetidas. Entendemos que há um imenso investimento social para que a heterossexualidade seja considerada a única possibilidade de duas pessoas, ou melhor, das mulheres serem felizes e realizadas. A indução da heterossexualidade faz com que a mulher esteja sempre a serviço e dependência do homem, observamos que hoje e no decorrer da história as mulheres sempre “pertencem” aos homens. São apenas suas esposas, amantes ou mães.
Pela legitimidade do casamento heterossexual, homens cometem violências psicológicas, físicas e sexuais contra “suas” mulheres. Mesmo com uma grande pressão do movimento feminista e conquistas como a Lei Maria da Penha, a cada dia aumenta assustadoramente o número de feminicídios, (no nosso estado só em 2009 foram registrados mais de 130 casos de mulheres que foram mortas por seus “companheiros”, não foi à toa que fizemos uma vigília).
O Papel que cabe a mulher, nesse sistema heterossexual ainda justifica a exploração dela no mercado de trabalho, obriga-a a dupla jornada de trabalho e ainda a induz a responsabilidade da educação dos filhos e o cuidado com os enfermos, como se cuidado e delicadeza fossem características inerentes ao seu sexo feminino. Nós, algumas vezes em nossas discussões, chegamos a comparar o casamento com a prostituição, pois sabemos que os dois procedem da mesma base: a subordinação da mulher ao homem.
Não estamos dizendo que a pratica da lesbianidade ou a prática não heterossexual seja a solução para o problema da opressão da mulher, mas que quando a mulher exerce a não heterossexualidade (vive sem a dependência social, econômica, emocional e sexual do homem) ela mesmo sem saber, com seu ato lesbiano, deixa claro que é possível e legitimo a subversão da norma da heterossexualidade e mostra outras formas possíveis de relacionamentos não baseados na opressão falocentrica.
O feminismo lesbiano reconhece também que a normatização heterossexual acarreta a invisibilidade e opressão de outras formas de desejar e se relacionar. Mas cabe deixar claro que a opressão não é simplesmente do desejo, estamos dizendo aqui de meninas que são expulsas de casa e se vêem obrigadas a viverem da rua, de outras que são estupradas pelo pai ou pelo tio que tentam forçá-las a viver a heterossexualidade, de mulheres que são humilhadas e perdem o emprego por razão da orientação sexual, do crescente número de suicídios entre mulheres lésbicas ou a total ausência de pesquisas para um método de prevenção para DST´s entre mulheres.
Essas discussões, nosso feminismo não pode deixar para as lésbicas, nosso feminismo tem que incorporar a luta de todas as mulheres, principalmente as lutas que vão contra os sistemas de opressão da nossa sociedade.
Existe hoje um movimento de mulheres lésbicas feministas, principalmente na América latina que teoriza sobre as relações de opressão vivenciadas na heterossexualidade e que está contribuindo muito com a crítica anti-patriarcal feminista. No Brasil, temos um número crescente de mulheres lésbicas organizadas que faz a crítica feminista anti-patriarcal e se sorve das teorias lésbico-feministas que estão sendo trabalhadas no mundo todo, principalmente na América latina.
As três redes nacionais de lésbicas- Articulação Brasileira de Lésbicas, Liga Brasileira de Lésbicas e Coletivo de Lésbicas Negras Candaces – possuem em suas diretrizes, os princípios feministas. Há também um grande número de mulheres independentes de redes e instituições que estudam e atuam conforme as teorias lésbicas feministas e outras que estão em redes mistas (redes LGBT) lutando para que as práticas feministas estejam presentes nas relações entre gays e lésbicas. Algumas delas além de militarem no movimento de mulheres lésbicas, também atuam no movimento feminista, inclusive dentro da AMB.
Muito se fala, no entanto da persistente dificuldade das organizações do movimento feminista em se envolver com as lutas específicas das mulheres lésbicas ou até mesmo uma falta de interesse nas críticas anti-patriarcais produzidas por teóricas lésbicas feministas.
Os motivos dessas dificuldades, ou de chamarmos essa conversa de “diálogos e controvérsias” podem ser vários. Pode se explicar através da heterossexualização do movimento feminista pode ser a dificuldade de reconhecer as luta específicas das lésbicas como uma legitima luta das mulheres, ou a suposição que lésbicas não estão tão vulneráveis quanto às heterossexuais aos augúrios do sistema patriarcal, ou pode ser a dificuldade do movimento feminista em trabalhar com as lésbicas não feministas presentes no movimento.
Acreditamos que o movimento feminista deve se abrir e ampliar o diálogo com o movimento de mulheres lésbicas brasileiro deve também estar atento ao modo de ver o patriarcado sob a lente das teorias lésbicas feministas e deve incorporar as lutas específicas destas mulheres. Assim estaremos mais fortes e estruturadas para combater o patriarcado pela sua raiz e construir um outro mundo possível.

Para consulta:

Occhy Curiel
Yuderks Spinosa
Mariana Pessah
Sheila Jefreys
Monique Withing
HTTP://grupolamce.blogspot.com

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