"Quero fazer da minha existencia lesbica feminista a produção crítica de mim mesma e do mundo!"

(frase criada por várias lésbicas feminista do Brasil- Marylucia Mesquita, Luanna Marley, Kaká Kolinsk...)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vigilia pelo Fim da violência contra a mulher

Hoje dia 24, as 18hrs começa a vigilia pelo fim da violênca contra a mulher.
A vigilia é organizada pelas organizações que compõe o Forum Cearense de Mulheres, inclusive o LAMCE, e se propõe a visibilizar a luta pelo fim da violencia contra a mulher, e os casos de mulheres brutalmente assassinadas pelo sistema patriarcal e heterossexista que vivemos.
Mesmo com a Lei Maria da Penha, que deveria contribuir para a diminuição dos casos de morte de mulheres, a violencia aumenta a cada ano.
As organizações e mulheres independentes estarão reunidas a partir das 18horas na praça da gentilandia. a programação é intensa e dura a noite inteira, com apresentações artísticas, grupos e bandas musicais, rodas de debate, apresentações de vídeos, e muito protesto e mobilização.
Confira abaixo alguns artigos de militantes do movimento de mulheres que foram publicados hoje no jornal O Povo.

Violência X autonomia
Diana Maia
24 Nov 2009 - 02h35min


Desde a consolidação do domínio masculino sobre o mundo, o controle sobre os corpos das mulheres é exercido de forma violenta e geralmente legitimada pela moral patriarcal que rege nossas sociedades. Acompanhando a polêmica do episódio da Uniban, protagonizado pela jovem Geisy Arruda, não posso deixar de tomá-lo como emblemático da desvalorização das mulheres em
nosso cotidiano.

Se antes éramos lançadas à fogueira por representar ameaça à ordem do mundo dos homens & pela ousadia de pular a janela do destino em busca de liberdade, conhecimento, prazer & hoje continuamos queimadas pela ridicularização pública e outras diversas formas de violência banalizadas em discussões simplistas sobre o que poderia ser evitado se: não usássemos tal roupa, não nos comportássemos de tal forma, não questionássemos tal lei, se não fôssemos mulheres em busca de autonomia. Os argumentos misóginos de culpabilização das mulheres, para desviar do problema real que é a violência sexista que nos é imposta, encontra respaldo e se encerra diante da afirmação da cultura como algo inquestionável.

É sobre nossos corpos como lugar de negação que se mantém todo um sistema de injustiças sociais, permeando nossa educação, leis e interpretação da realidade.

O corpo feminino como lugar de expressão da sexualidade simboliza no imaginário social dois destinos aparentemente opostos, mas reveladores de uma mesma alienação: o casamento e a prostituição (não me refiro aqui à livre escolha de união entre duas pessoas autônomas nem à opção de trabalhar com o sexo), quando estas duas alternativas restringem nosso comportamento à afirmação das expectativas sociais de aprovação ou condenação de nossa sexualidade. Ambas calcadas no viés opressor de domínio sobre os corpos e o exercício pleno da sexualidade feminina. O mito do amor romântico culminando com o contrato sexual impõe tantos obstáculos à autonomia das mulheres quanto a manipulação do discurso libertário pela lógica capitalista liberal, invertendo nossa proposta de relações igualitárias em consumo de pessoas.

Ainda precisamos avançar muito em todos os âmbitos de organização da vida em sociedade para que nós, mulheres, sejamos valorizadas como seres inteiros e autônomos e não reduzidas a Evas ou Marias, para que não mercantilizem nossos copos em tampinhas de cerveja, para que não sejamos criminalizadas nem mortas por dizer não à maternidade ou ao ex-companheiro, para que dívidas raciais, heterossexistas e adultocêntricas sejam tão reconhecidas quanto a luta de classes, para que a economia não se movimente pela ação de parasitas que consomem os corpos de nossas crianças e adolescentes. Para que nossas palavras superem a cautela e nossa voz ao invés de mansa conquiste a amplidão.

DIANA MAIA - Feminista militante do Fórum Cearense de Mulheres e do Coletivo de Jovens Feministas

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Direito a ter direitos
Mary Silva de Souza
24 Nov 2009 - 02h35min


É notório, quando mencionamos o termo violência, direcionarmos nosso discurso para o ataque físico, principalmente se estivermos nos referindo à violência
contra a mulher.

Devemos considerar que violência é um comportamento que causa dano à outra pessoa, ser vivo ou objeto. Portanto, quando nos deparamos com direitos negados, seja lá em que circunstância for, é uma situação de violência. No âmbito trabalhista, nós, mulheres, somos duramente penalizadas com uma sobrecarga de trabalho que não sabemos nem mais calcular se é dupla, tripla ou algo mais. E onde fica o nosso direito ao descanso semanal? Se com essa jornada ampliada até aos fins de semana estamos no ``tronco``, para cumprir com os cuidados com a família, determinados pela sociedade machista e patriarcal?

Constantemente tomamos conhecimento de serem burlados direitos adquiridos. E isso também precisa ser encarado como uma forma de violência. O poder legislativo aprova as leis e, vergonhosamente, muitas ficam só no papel, como é o caso da lei que trata o Piso Salarial Nacional do Magistério. A redução da carga horária dos professores em um terço é o que garante essa lei de fato, mas de direito ainda não foi executada. E a categoria fica a mercê dos gestores, que fazem total descaso de um direito garantido às custas de muita luta da sociedade civil organizada. Aí fica a indagação: será que a redução da jornada dos professores não é respeitada porque a categoria é majoritariamente composta por mulheres?

A sociedade capitalista se desenvolveu às custas da exploração do trabalho feminino e esse é um dos motivos que justificam a opressão que sofremos. É só imaginar quantas mulheres realizam o trabalho doméstico, o cuidado dos filhos, dos idosos, das pessoas com deficiência. Se o trabalho feminino não fosse desvalorizado e invisibilizado, se todas essas mulheres recebessem salários dignos por esse trabalho o sistema certamente entraria em colapso. E sobre nós, mulheres, é jogado o peso de sustentar esse sistema e, pior, sem o menor reconhecimento de que é às custas desse trabalho que os homens podem sair para trabalhar nas indústrias, nas fábricas, nas empresas etc. Para manter essa situação de exploração, a cultura machista usa um simples argumento: o trabalho doméstico faz parte da essência feminina.

Nós, mulheres, queremos usufruir os nossos direitos sem sermos questionadas por essa sociedade que oprime até nossa forma de vestir. O que nós mulheres queremos é a nossa liberdade incondicional. É podermos escolher o que vestir, aonde ir, com quem ficar, a quem amar. Enfim, queremos o direito de ter direitos. Isso é querer muito? Pois queremos ainda mais. Queremos uma sociedade que nos respeite, para que nos sintamos parte dela, sem hipocrisia.

MARY SILVA DE SOUZA - Pedagoga, integrante do Suprema e do Fórum Cearense de Mulheres


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Basta de violência
Aurycelia da Silva Costa
24 Nov 2009 - 02h35min


A violência contra a mulher é reconhecida como problema social, que vem lançando desafios para os poderes públicos, pressionados para agirem pela construção de justiça e igualdade de gênero. Essa violência, cometida por parceiros e ex-parceiros, é a maior causa de doenças e morte de mulheres. É um desafio urgente o conhecimento dos elementos simbólicos da dominação masculina, presentes nas representações sociais de gênero e de violência contra mulher, reproduzindo sofrimentos e violações que destroem sonhos de milhares de mulheres pelo mundo.

Essa violência configura-se no exercício de um poder que tem dimensões opostas em que se envolvem dominação, consentimento e também resistência. O poder é a possibilidade concreta de ação capaz de transformar as coisas. Tem dimensões pessoais, coletivas e políticas. O corpo das mulheres constitui-se em local de exercício de um poder de controle e de subjugo, como forma de calar e destruir a autonomia feminina contra as formas de dominação masculina. Uma maneira que expressa esse domínio do masculino sobre o feminino é à violência física, que assume o seu estágio final no assassinato que desenha, de forma brutal, essa violência, demarcando, nos corpos das vítimas, um sinal de ódio, que se expressa num crime cultural e político: o feminicídio. Segundo a imprensa cearense, de janeiro a novembro deste ano 113 mulheres foram assassinadas & quase uma mulher a cada dois dias e meio.

Essa morte não pode ser tratada como um crime comum. Os homens usam a força para matar a mulher com ferimentos provocados por armas diferentes, martirizando o corpo até a morte e, muitas vezes, até depois dela. Ora, a força em nossa sociedade é o mais evidente signo do macho e, dessa maneira, o modo de matar as mulheres revela-se como um crime de gênero.

A lei Maria da Penha (LMP), criada para combater e punir a violência doméstica e familiar contra mulheres, está enfrentando um embate ideológico e político, com a finalidade de inviabilizá-la. Precisamos agir na defesa dessa Lei, conquista não apenas de uma, mas de todas as mulheres. A LMP tem que ser garantida e aplicada como um instrumento de justiça e proteção, não como só mais uma Lei que vai ficar no papel. Ela é resultado de lutas e conquistas voltadas para mudança da realidade das mulheres que vivem em ciclos de violência que podem se iniciar pela violência psicológica, patrimonial, sexual, moral e física, terminando, muitas vezes, com o ``Feminicídio``, ou seja, o seu assassinato pelo fato de ser mulher. Devemos ser firmes: pelo fim de toda violência de gênero contra as mulheres e pela garantia de nossos direitos humanos.

AURYCELIA DA SIVA COSTA - Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre gênero, idade e família (Negif) da UFC


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A atualidade do feminismo emancipacionista
Nágyla Drumond
24 Nov 2009 - 02h35min

O binômio classe/gênero é um dos principais elementos articuladores e estruturantes das relações sociais, permitindo-nos entender como os sujeitos estão sendo constituídos cotidianamente por um conjunto de significados impregnados de símbolos culturais, conceitos normativos, institucionalidades e subjetividades sexuadas que atribuem a homens e mulheres um lugar diferenciado no mundo, sendo essa diferença atravessada por relações de poder que conferem ao homem uma posição historicamente dominante. Entendendo, no entanto, que esses lugares sociais não são totalmente cristalizados, mas construídos de maneira relacional.

Ao longo do século XX, nunca ficou tão clara a existência e a continuidade da opressão de gênero. O progresso material da humanidade não foi acompanhado, na mesma medida, pelo avanço pessoal, social e político das mulheres. A atual crise do Capitalismo, inclusive, vem colocando novos desafios frente à luta feminista. É preciso fortalecer a identidade feminina, afirmando que somos donas de nossos corpos e de que devemos ampliar nossa participação nos espaços de poder e decisão como forma, inclusive, de enfrentar a violência. É necessário continuar avançando na garantia de políticas públicas, ocupando a esfera institucional de maneira decisória e, ao mesmo tempo, compreender que nossa fonte inspiradora continuará sendo a radicalidade de nossa luta: feminista e emancipacionista. Pois acreditamos que não basta incluir as mulheres numa agenda afirmativa de políticas públicas; é preciso emancipá-las. Por isso, continuamos firmes na construção de uma nova sociedade, que chamamos de Socialismo.

No Ceará, o ano de 2009 nem mesmo terminou e 113 mulheres já foram assassinadas. Um aumento de 21 %, em relação aos assassinatos registrados no Estado em todo o ano de 2008. Esta realidade exige, de maneira imediata, a implantação da Secretaria Estadual de Mulheres; a ampliação do número de juizados, delegacias especializadas, casas-abrigo, centros de referência, numa concepção que não responsabilize as mulheres pela violência que sofrem, mas que enfrente o desafio da violência sexista como um processo que deve ser desconstruído por toda a sociedade.

Neste 25 de novembro & Dia Internacional pela Erradicação de todas as formas de violência contra a Mulher - defendamos que um novo plano de desenvolvimento nacional, que avance ainda mais do que o Governo Lula vem avançando, é de fundamental importância para a vida das mulheres. Continuemos firmes em nossa luta diária em busca do desenvolvimento com participação ativa das mulheres, entendendo que a luta feminista se entrelaça à luta de nosso povo por uma sociedade verdadeiramente livre, justa e igualitária.

NÁGYLA DRUMOND - Mestre em Sociologia & Coordenação UBM/ Presidenta do Centro Socorro Abreu

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