"Quero fazer da minha existencia lesbica feminista a produção crítica de mim mesma e do mundo!"

(frase criada por várias lésbicas feminista do Brasil- Marylucia Mesquita, Luanna Marley, Kaká Kolinsk...)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vigilia pelo Fim da violência contra a mulher

Hoje dia 24, as 18hrs começa a vigilia pelo fim da violênca contra a mulher.
A vigilia é organizada pelas organizações que compõe o Forum Cearense de Mulheres, inclusive o LAMCE, e se propõe a visibilizar a luta pelo fim da violencia contra a mulher, e os casos de mulheres brutalmente assassinadas pelo sistema patriarcal e heterossexista que vivemos.
Mesmo com a Lei Maria da Penha, que deveria contribuir para a diminuição dos casos de morte de mulheres, a violencia aumenta a cada ano.
As organizações e mulheres independentes estarão reunidas a partir das 18horas na praça da gentilandia. a programação é intensa e dura a noite inteira, com apresentações artísticas, grupos e bandas musicais, rodas de debate, apresentações de vídeos, e muito protesto e mobilização.
Confira abaixo alguns artigos de militantes do movimento de mulheres que foram publicados hoje no jornal O Povo.

Violência X autonomia
Diana Maia
24 Nov 2009 - 02h35min


Desde a consolidação do domínio masculino sobre o mundo, o controle sobre os corpos das mulheres é exercido de forma violenta e geralmente legitimada pela moral patriarcal que rege nossas sociedades. Acompanhando a polêmica do episódio da Uniban, protagonizado pela jovem Geisy Arruda, não posso deixar de tomá-lo como emblemático da desvalorização das mulheres em
nosso cotidiano.

Se antes éramos lançadas à fogueira por representar ameaça à ordem do mundo dos homens & pela ousadia de pular a janela do destino em busca de liberdade, conhecimento, prazer & hoje continuamos queimadas pela ridicularização pública e outras diversas formas de violência banalizadas em discussões simplistas sobre o que poderia ser evitado se: não usássemos tal roupa, não nos comportássemos de tal forma, não questionássemos tal lei, se não fôssemos mulheres em busca de autonomia. Os argumentos misóginos de culpabilização das mulheres, para desviar do problema real que é a violência sexista que nos é imposta, encontra respaldo e se encerra diante da afirmação da cultura como algo inquestionável.

É sobre nossos corpos como lugar de negação que se mantém todo um sistema de injustiças sociais, permeando nossa educação, leis e interpretação da realidade.

O corpo feminino como lugar de expressão da sexualidade simboliza no imaginário social dois destinos aparentemente opostos, mas reveladores de uma mesma alienação: o casamento e a prostituição (não me refiro aqui à livre escolha de união entre duas pessoas autônomas nem à opção de trabalhar com o sexo), quando estas duas alternativas restringem nosso comportamento à afirmação das expectativas sociais de aprovação ou condenação de nossa sexualidade. Ambas calcadas no viés opressor de domínio sobre os corpos e o exercício pleno da sexualidade feminina. O mito do amor romântico culminando com o contrato sexual impõe tantos obstáculos à autonomia das mulheres quanto a manipulação do discurso libertário pela lógica capitalista liberal, invertendo nossa proposta de relações igualitárias em consumo de pessoas.

Ainda precisamos avançar muito em todos os âmbitos de organização da vida em sociedade para que nós, mulheres, sejamos valorizadas como seres inteiros e autônomos e não reduzidas a Evas ou Marias, para que não mercantilizem nossos copos em tampinhas de cerveja, para que não sejamos criminalizadas nem mortas por dizer não à maternidade ou ao ex-companheiro, para que dívidas raciais, heterossexistas e adultocêntricas sejam tão reconhecidas quanto a luta de classes, para que a economia não se movimente pela ação de parasitas que consomem os corpos de nossas crianças e adolescentes. Para que nossas palavras superem a cautela e nossa voz ao invés de mansa conquiste a amplidão.

DIANA MAIA - Feminista militante do Fórum Cearense de Mulheres e do Coletivo de Jovens Feministas

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Direito a ter direitos
Mary Silva de Souza
24 Nov 2009 - 02h35min


É notório, quando mencionamos o termo violência, direcionarmos nosso discurso para o ataque físico, principalmente se estivermos nos referindo à violência
contra a mulher.

Devemos considerar que violência é um comportamento que causa dano à outra pessoa, ser vivo ou objeto. Portanto, quando nos deparamos com direitos negados, seja lá em que circunstância for, é uma situação de violência. No âmbito trabalhista, nós, mulheres, somos duramente penalizadas com uma sobrecarga de trabalho que não sabemos nem mais calcular se é dupla, tripla ou algo mais. E onde fica o nosso direito ao descanso semanal? Se com essa jornada ampliada até aos fins de semana estamos no ``tronco``, para cumprir com os cuidados com a família, determinados pela sociedade machista e patriarcal?

Constantemente tomamos conhecimento de serem burlados direitos adquiridos. E isso também precisa ser encarado como uma forma de violência. O poder legislativo aprova as leis e, vergonhosamente, muitas ficam só no papel, como é o caso da lei que trata o Piso Salarial Nacional do Magistério. A redução da carga horária dos professores em um terço é o que garante essa lei de fato, mas de direito ainda não foi executada. E a categoria fica a mercê dos gestores, que fazem total descaso de um direito garantido às custas de muita luta da sociedade civil organizada. Aí fica a indagação: será que a redução da jornada dos professores não é respeitada porque a categoria é majoritariamente composta por mulheres?

A sociedade capitalista se desenvolveu às custas da exploração do trabalho feminino e esse é um dos motivos que justificam a opressão que sofremos. É só imaginar quantas mulheres realizam o trabalho doméstico, o cuidado dos filhos, dos idosos, das pessoas com deficiência. Se o trabalho feminino não fosse desvalorizado e invisibilizado, se todas essas mulheres recebessem salários dignos por esse trabalho o sistema certamente entraria em colapso. E sobre nós, mulheres, é jogado o peso de sustentar esse sistema e, pior, sem o menor reconhecimento de que é às custas desse trabalho que os homens podem sair para trabalhar nas indústrias, nas fábricas, nas empresas etc. Para manter essa situação de exploração, a cultura machista usa um simples argumento: o trabalho doméstico faz parte da essência feminina.

Nós, mulheres, queremos usufruir os nossos direitos sem sermos questionadas por essa sociedade que oprime até nossa forma de vestir. O que nós mulheres queremos é a nossa liberdade incondicional. É podermos escolher o que vestir, aonde ir, com quem ficar, a quem amar. Enfim, queremos o direito de ter direitos. Isso é querer muito? Pois queremos ainda mais. Queremos uma sociedade que nos respeite, para que nos sintamos parte dela, sem hipocrisia.

MARY SILVA DE SOUZA - Pedagoga, integrante do Suprema e do Fórum Cearense de Mulheres


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Basta de violência
Aurycelia da Silva Costa
24 Nov 2009 - 02h35min


A violência contra a mulher é reconhecida como problema social, que vem lançando desafios para os poderes públicos, pressionados para agirem pela construção de justiça e igualdade de gênero. Essa violência, cometida por parceiros e ex-parceiros, é a maior causa de doenças e morte de mulheres. É um desafio urgente o conhecimento dos elementos simbólicos da dominação masculina, presentes nas representações sociais de gênero e de violência contra mulher, reproduzindo sofrimentos e violações que destroem sonhos de milhares de mulheres pelo mundo.

Essa violência configura-se no exercício de um poder que tem dimensões opostas em que se envolvem dominação, consentimento e também resistência. O poder é a possibilidade concreta de ação capaz de transformar as coisas. Tem dimensões pessoais, coletivas e políticas. O corpo das mulheres constitui-se em local de exercício de um poder de controle e de subjugo, como forma de calar e destruir a autonomia feminina contra as formas de dominação masculina. Uma maneira que expressa esse domínio do masculino sobre o feminino é à violência física, que assume o seu estágio final no assassinato que desenha, de forma brutal, essa violência, demarcando, nos corpos das vítimas, um sinal de ódio, que se expressa num crime cultural e político: o feminicídio. Segundo a imprensa cearense, de janeiro a novembro deste ano 113 mulheres foram assassinadas & quase uma mulher a cada dois dias e meio.

Essa morte não pode ser tratada como um crime comum. Os homens usam a força para matar a mulher com ferimentos provocados por armas diferentes, martirizando o corpo até a morte e, muitas vezes, até depois dela. Ora, a força em nossa sociedade é o mais evidente signo do macho e, dessa maneira, o modo de matar as mulheres revela-se como um crime de gênero.

A lei Maria da Penha (LMP), criada para combater e punir a violência doméstica e familiar contra mulheres, está enfrentando um embate ideológico e político, com a finalidade de inviabilizá-la. Precisamos agir na defesa dessa Lei, conquista não apenas de uma, mas de todas as mulheres. A LMP tem que ser garantida e aplicada como um instrumento de justiça e proteção, não como só mais uma Lei que vai ficar no papel. Ela é resultado de lutas e conquistas voltadas para mudança da realidade das mulheres que vivem em ciclos de violência que podem se iniciar pela violência psicológica, patrimonial, sexual, moral e física, terminando, muitas vezes, com o ``Feminicídio``, ou seja, o seu assassinato pelo fato de ser mulher. Devemos ser firmes: pelo fim de toda violência de gênero contra as mulheres e pela garantia de nossos direitos humanos.

AURYCELIA DA SIVA COSTA - Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre gênero, idade e família (Negif) da UFC


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A atualidade do feminismo emancipacionista
Nágyla Drumond
24 Nov 2009 - 02h35min

O binômio classe/gênero é um dos principais elementos articuladores e estruturantes das relações sociais, permitindo-nos entender como os sujeitos estão sendo constituídos cotidianamente por um conjunto de significados impregnados de símbolos culturais, conceitos normativos, institucionalidades e subjetividades sexuadas que atribuem a homens e mulheres um lugar diferenciado no mundo, sendo essa diferença atravessada por relações de poder que conferem ao homem uma posição historicamente dominante. Entendendo, no entanto, que esses lugares sociais não são totalmente cristalizados, mas construídos de maneira relacional.

Ao longo do século XX, nunca ficou tão clara a existência e a continuidade da opressão de gênero. O progresso material da humanidade não foi acompanhado, na mesma medida, pelo avanço pessoal, social e político das mulheres. A atual crise do Capitalismo, inclusive, vem colocando novos desafios frente à luta feminista. É preciso fortalecer a identidade feminina, afirmando que somos donas de nossos corpos e de que devemos ampliar nossa participação nos espaços de poder e decisão como forma, inclusive, de enfrentar a violência. É necessário continuar avançando na garantia de políticas públicas, ocupando a esfera institucional de maneira decisória e, ao mesmo tempo, compreender que nossa fonte inspiradora continuará sendo a radicalidade de nossa luta: feminista e emancipacionista. Pois acreditamos que não basta incluir as mulheres numa agenda afirmativa de políticas públicas; é preciso emancipá-las. Por isso, continuamos firmes na construção de uma nova sociedade, que chamamos de Socialismo.

No Ceará, o ano de 2009 nem mesmo terminou e 113 mulheres já foram assassinadas. Um aumento de 21 %, em relação aos assassinatos registrados no Estado em todo o ano de 2008. Esta realidade exige, de maneira imediata, a implantação da Secretaria Estadual de Mulheres; a ampliação do número de juizados, delegacias especializadas, casas-abrigo, centros de referência, numa concepção que não responsabilize as mulheres pela violência que sofrem, mas que enfrente o desafio da violência sexista como um processo que deve ser desconstruído por toda a sociedade.

Neste 25 de novembro & Dia Internacional pela Erradicação de todas as formas de violência contra a Mulher - defendamos que um novo plano de desenvolvimento nacional, que avance ainda mais do que o Governo Lula vem avançando, é de fundamental importância para a vida das mulheres. Continuemos firmes em nossa luta diária em busca do desenvolvimento com participação ativa das mulheres, entendendo que a luta feminista se entrelaça à luta de nosso povo por uma sociedade verdadeiramente livre, justa e igualitária.

NÁGYLA DRUMOND - Mestre em Sociologia & Coordenação UBM/ Presidenta do Centro Socorro Abreu

domingo, 15 de novembro de 2009

O primeiro e único selo editorial da América do Sul especializado em publicações para lésbicas completa um ano


* Extraído na íntegra do site: www.estadao.com.br/noticias/suplementos,uma-editora-engajada,465997,0.htm , acesso em 15/11/2009 às 15h


Uma editora engajada
Ciça Vallerio - O Estado de S. Paulo

PIONEIRISMO – Hanna (esquerda) e Laura comemoram o lançamento do quarto livro da Malagueta A Malagueta é um empreendimento de lésbicas para lésbicas. Este é o mote da única editora da América do Sul que publica livros voltados só para mulheres homossexuais. Após um ano de existência do negócio, as sócias Laura Bacellar e Hanna Korich se preparam para lançar este mês o quarto título e comemorar o resultado dessa empreitada.

"Já participamos de várias feiras do livro, fizemos encontros literários em muitos estados, firmamos parcerias com livrarias independentes e, o mais importante, estamos contribuindo para a ampliação da cultura lésbica, que é uma maneira de erradicar o preconceito", avisa Laura, de 49 anos, respeitada profissional do mercado editorial, com passagens pelas principais editoras do País. Foi ela que lançou o selo GLS, criado dentro da Summus, e o primeiro do País dedicado às minorias sexuais.

Quando Laura fala em "ampliar a cultura lésbica" significa aumentar a visibilidade das homossexuais para que essas mulheres possam ser aceitas cada vez mais pela sociedade e por elas próprias. "Ao contrário dos homens gays, fomos ensinadas a ficar quietas", ressalta. "Mas a nova geração já começa a mudar isso, tornando-se menos invisível. Mesmo assim, tudo o que é produzido na nossa cultura só é pensado para as mulheres heterossexuais, apesar de pesquisas do porte do Relatório Kinsey revelarem que 10% das mulheres são lésbicas."

Um exemplo dessa disparidade está no próprio mercado editorial do Brasil, que comporta entre 20 mil e 50 mil títulos por ano. No entanto, de tudo o que está nas prateleiras das livrarias apenas 75 abordam a temática lésbica, conforme levantamento realizado por Laura Bacellar. E como esses poucos títulos não são divulgados, a Malagueta comercializa também livros de outras editoras que tratam do tema lesbianismo e costumam passar despercebidos entre as pilhas de lançamentos.

Os três livros editados pela Malagueta já fizeram a alegria de autoras brasileiras que encontraram um canal de divulgação e comercialização de seus romances. O primeiro foi As Guardiãs da Magia, de Lúcia Facco. Depois vieram Amores Cruzados, de Fátima Mesquita; e Shangrilá, de Marina Porteclis. Este mês, vai entrar na lista o Aqueles Dias Junto ao Mar, escrito por Karina Dias, que se tornou um frisson na internet e agora chega na versão impressa, reescrita e com um novo final.
CONTRA O ESTIGMA – Para a escritora Karina, quanto mais se fala sobre o tema, menor o preconceito

Em todas as publicações, as histórias falam de amor e sexo entre mulheres. As sócias avisam: "Os textos são um pouco apimentados, mas não trabalhamos com pornografia." Outra particularidade do selo Malagueta é o formato de bolso dos livros, que recebem contracapas lilás (cor que representa os homossexuais), para que suas leitoras tenham privacidade na hora de ler em lugares públicos. Mais uma curiosidade: o símbolo da editora são duas sapinhas, o que dá um toque de humor (para quem não sabe: "sapa" é um apelido popular para lésbica).


HAPPY END
Diferentemente de romances lésbicos publicados no passado, os livros lançados pela Malagueta têm direito a final feliz, embora isso não seja um requisito para a sua publicação. Para se ter uma ideia, as personagens da escritora Cassandra Rios, uma das precursoras da literatura lésbica no Brasil em plena repressão dos anos de 1970, eram amargas, bebiam muito e sofriam com o amor impossível.

Apenas em 1999, surgiu o primeiro livro brasileiro que falava do amor entre duas mulheres com final feliz. Foi Julieta e Julieta, escrito pela mineira Fátima Mesquita, que atualmente mora no Canadá. Apesar do estigma, as poucas publicações que tratam da homossexualidade feminina ajudam a entender e a aceitar a condição sexual de muitas que enfrentam barreiras na sociedade. Foi o que aconteceu com a própria Hanna, de 52 anos, que, junto com Laura, inaugurou a Malagueta.

"Os livros são fundamentais para tirar dúvidas, fazer as pessoas conhecerem o universo homo de uma forma serena", acredita Hanna. "Eu tive dificuldades para me aceitar, porque vivia em um universo profissional cheio de preconceitos, que era o de advogados, além do ambiente familiar. Foram os livros que me ajudaram a ter compreensão de mim mesma. Pensando na minha trajetória, entrei nesse projeto para que outras tenham a mesma oportunidade que eu tive."

Depois de várias décadas, Hanna assumiu publicamente sua homossexualidade e seu relacionamento de cinco anos com Laura, sua sócia.

A escritora Karina Dias, autora do quarto título da Malagueta, não sofreu preconceito quando assumiu sua condição sexual aos 18 anos. Porém, a maioria de suas leitoras lésbicas, que acompanha suas histórias publicadas na web, sente muita dificuldade para lidar com a sexualidade.

"Várias só conseguem viver o amor delas na internet, lendo os romances e contos que escrevo", conta a carioca Karina, de 30 anos, que estuda Jornalismo e se mudou para São Paulo, com o objetivo de morar com sua companheira paulistana. "Uma editora específica para esse nicho é importante, pois mostra, por meio de suas publicações, que é possível ser feliz. Além disso, a partir do momento em que se conhece mais sobre esse assunto, os estigmas e preconceitos vão se diluindo naturalmente."

Além das leitoras, muitas autoras também não se sentem à vontade para se expor. Por isso, acabam usando pseudônimos, como observa a carioca Lúcia Facco. Ela está finalizando a segunda parte do seu livro As Guardiãs da Magia, lançado pela Malagueta. Mas bem antes desse título, publicou outros com temática lésbica.
"Quanto mais se fala, mais se desmistifica o tema", ressalta Lúcia, que é mestre em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "É importante que as pessoas saibam que não vivemos em gueto, que não ficamos fazendo sexo 24 horas por dia. Tem sexo sim, mas também há muita afetividade. Aliás, é o tipo de literatura que não é preciso ser lésbica para ler. Do mesmo jeito que não é necessário ser polícia para ler uma história policial."

Curso "Mídia, Gênero e Sexualidade"

* Por Luanna Marley


E pra quem gosta de Mídia articulada com a discussão de Gênero e Sexualidade, não percam as inscrições (que vão até o dia 18/11) para o Curso "Mídia, Gênero e Sexualidade". A realização é da Prefeitura Municipal de Fortaleza, através da Coordenadoria de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual da Secretaria de Direitos Humanos.

O Curso, que será ministrado pelo Jornalista e escritor Júnior Rats, tem como objetivo refletir sobre como são construídas as imagens de identidade de gênero e de sexualidade da mídia atual, em especial a mídia publicitária.

O curso acontecerá entre os dias 23 de novembro a 03 de dezembro no Vila das Artes, sempre das 14 as 17hs e tem carga horária total de 30hs.

As incrições são gratuitas, destinadas a maiores de 18 anos, em horário comercial, na secretaria da Vila das Artes (Rua 24 de maio, 1221, Centro) e vão até o dia 18 de novembro. Serão disponibilizadas 30 vagas.

Por isso, Não PERCA!

Maiores Informações

Vila das Artes - 3252-1444
Coordenadoria de Políticas Públicas para Diversidade Sexual – 3452-2349/2345 ( diversidadefortaleza@gmail.com )

Júnior Ratts – 8747-4650

Sobre Júnior Ratts
Júnior Ratts é Bacharel em Comunicação formado pela Universidade Federal do Ceará, escritor, pesquisador, produtor cultural e tem experiência em redação jornalística e publicitária. Atualmente faz Mestrado em Comunicação na UFC, no qual desenvolve pesquisas em torno do tema "Mídia, Gênero e Sexualidade", as quais têm sido apresentadas, sob forma de artigo, em diversos encontros e congresso nacionais. Como escritor, já ganhou três prêmios literários – dois estaduais e um municipal – e publicará seu segundo livro no segundo semestre de 2009. O primeiro livro (Eterna Morte Passageira) volta-se para os sentimentos femininos de perda, rejeição, entre outros fatores que envolvem o cotidiano do gênero; já o segundo livro (Sweet Dreams: o anão e o cachorro, o calmante e o formicida) relata as angústias dos homossexuais masculinos. Em produção cultural, organiza há oito anos o NÓIA – Festival Brasileiro do Audiovisual Universitário.

Fonte: Coordenadoria de Políticas Públicas para Diversidade SExual -Secretaria de Direitos Humanos

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Mulheres no computador = Homens pasmos

* Por Sheryda Lopes (Jovem feminista militante do Coletivo de Jovens Feministas do Ceará e graduanda em jornalismo)



Como contei num post anterior, estou fazendo um curso de webdesigner. Agora, o que não contei é que sou a única mulher. E já ouvi muitas coisas por conta disso, e só então percebi que nós somos raras em cursos desse tipo, assim como em hardware, designer gráfico avançado e programação. Acho que devido às nossas supostas funções no mundo (decoração e delicadeza) somos sempre levadas a fazer cursos de recepcionista, secretariado, call center, etc.

Aos homens ficam reservadas as funções que exigem mais racionalidade e frieza. Sem falar que para se desenvolver bem em programas de computador, é preciso ter tempo para ficar estudando, mas adivinha quem tem que fazer as tarefas domésticas ao invés disso? Um doce a quem adivinhar.
Abaixo, algumas pérolas de meus masculinos colegas:

-Porque você resolveu fazer um curso de webdesigner? (pessoa do sexo masculino pasma e intrigada)

-Porque quero aprender a fazer sites. (Dã!)

Na hora do intervalo, conversa entre dois homens e eu:

- Oi, você estuda aqui?

-Estudo.

-À tarde?

-Não, à noite (?o que eu estaria fazendo lá às 20:30 se estudasse à tarde?).

-Faz curso de quê?

- Web (me preparando para o pior).


-????Sééééério???? Nooossa!

- É sim! Eu também fiquei impressionado! Eles têm sorte, não tem ninguém florindo a minha turma.("eles " devem ser os meus abençoados colegas)

- Eu não tô florindo nada não!

- Mas se tem uma mulher, então o ambiente está florido!(poeta... )

- O curso é de web, não de paisagismo.( emocionada com a homenagem)

Isso foi depois que descobriram que eu além de mulher era feminista:

- Quer dizer que você é feminista?

-Anrã.

- Sinceramente, eu acho as feministas são mais machistas que os homens.

-Quantas feministas você conhece?

-Você é a primeira.

-Essa visão preconceituosa é muito reforçada para enfraquecer nosso movimento. Essa e muitas outras, como dizer que as mulheres são determinadas a cuidar do lar enquanto o homem detém a vida pública.

-Mas isso é verdade, todo mundo tem que assumir suas funções. A mulher tem ser mãe e educar os filhos, é natural. É porque querem quebrar esse equilíbrio que a nossa sociedade está ficando assim, sem rumo.

-Você acha que a nossa sociedade é equilibrada?

-Acho.

-Você deve ter uma vida muito confortável.

E essa foi quando eu estava brincando no Corel Draw durante uma aula livre e fiz o desenho abaixo:



Um colega atrás de mim viu a ilustração e falou beeem alto:

-Ei, esse desenho aí num tá meio LÉSBICO não?(indignado)

Respondi bem altão também:

-MEIO? Eu fiz o mais lésbico que consegui e ainda assim ficou só meio lésbico? (risinhos abafados da turma seguido de silêncio).

Ultimamente tenho evitado esses momentos porque o curso é a noite e quase sempre estou super cansada para ainda ter que me meter em debates e esclarecimentos.

Mas sinceramente, é um saco ouvir as piadinhas machistas no fundão comentando de forma nojenta as gostosonas não sei de onde, fora as homofobias. Esta semana, por exemplo, tinha um cara dizendo que o Alexandre Pato (jogador muito rico) podia ter qualquer “gata-gostosa” que quisesse, mas ao invés disso tinha casado com uma “doidinha-mó-páia”. Ai meus sais lilases...

Agora quando algum absurdo é “compartilhado” para a turma durante a aula eu me dou o direito a algumas cortadas. Afinal, ser feminista é estar sempre alerta. O problema é quando a gente acaba sendo tão violenta quanto o agressor e acaba perdendo uma oportunidade de firmar um diálogo. Mas também nem sempre tem que tratar com luvas de pelica certas coisas. De vez em quando um Simancol básico cai bem. E haja Simancol.


Fonte: Texto extraido do Blog Sherviajando (http://sherviajando.blogspot.com/2009/07/mulheres-no-computador-homens-pasmos.html)

Não deixe de conferir esse blog - http://sherviajando.blogspot.com/